domingo, 19 de dezembro de 2010

Valsa com Bashir (2008)

Esse é o primeiro post que faço longe do Brasil. Não vi muitos filmes aqui na França nesse semestre e por isso resolvi fazer uma mini maratona de um filme por dia agora no fim de ano. Vou ver se isso me rende alguns posts aqui. Mas lá vai: Valsa com Bashir, ou na versão original em hebraico, Vals in Bashir.



É realmente sensacional. Eu estava a bastante tempo pra ver esse filme, que papou o Oscar de 2008 de melhor filme estrangeiro fácil fácil. É um documentário-animação todo estilizando, contando relatos sobre como foi a participação Israelense na guerra do Líbano nos anos 80.

Quando eu comecei a assistir, não sabia exatamente que era um documentário, mas quando os nomes dos personagens, ou na verdade pessoas reais, começaram a aparecer no canto da tela, passei a pensar nisso.

No filme, um diretor, no caso o real diretor do filme Ari Folman, a partir de uma conversa de bar com uma amigo que tem pesadelos terríveis sobre a guerra, se dá conta que não consegue mais se lembrar da época que servia no exército. A partir disso, ele, na época com 19 anos, sai atrás de antigos companheiros e pessoas que vivenciaram o mesmo, que estavam servindo na guerra. Com essas conversas, a sua memória vai voltando aos poucos e o horror da guerra, principal tema do filme, vai aparecendo em construções surreais dramaticamente orquestradas.



Algumas pessoas que foram entrevistadas decidiram pedir para atores representarem suas vozes e não mostrarem suas faces. Esse foi um dos motivos que levou o diretor a fazer uma animação. Acertou em cheio.

É um filme lindamente construído. Adorei o estilo da animação e a trilha sonora, mas para mim o principal mérito de Valsa com Bashir é o tema, que é visto de uma maneira muito diferente e em um cenário que não estamos acostumados a ver: o Oriente Médio.



E pra quem ficou desconfiado com o lance da animação: o filme foi Rated R nos EUA, ou seja proibido para menores de 18, por conter cenas de cexo e violência explícita. Não é MESMO um filme de crianças.

É realmente uma obra de arte. Recomendadíssimo. Pra mim, são 5 pipocas e não se fala mais nisso.

Nota:

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tropa de Elite 2 (2010)

Antes de ver o filme, tinha o seguinte me mente: Disseram que o 2° é melhor que o 1°;
Fala sobre a relação do Capitão Nascimento com seu filho; e tem o subtítulo meio estúpido "O Inimigo Agora é Outro"

Bom, o que pensei na hora foi que o filme focaria nas dificuldades enfrentadas por alguém que "arrisca diariamente sua vida para salvar a dos outros" em cuidar de um filho que mora com a mãe e seu novo marido. Aquela história super-clichê feito pra emocionar vovó.

Nada disto: Capitão Nascimento não perdeu a pose. A narração em 1ª pessoa continua sendo a marca, que eu adoro tanto, do filme.
Eu não diria que o 2° é melhor, mas que é muito mais bem feito, tecnicamente, não há duvida alguma. A continuação não ficou forçada, o que me preocupava muito, e o Matias está ainda mais cativante.


O filme brinca com o espectador, com o certo-errado. Explicita fatos que ninguém nunca, em nenhum meio, explicitou. Ele vai além da ficção, além do entretenimento. Compreensível e empolgante, um orgulho do cinema brasileiro.
O aspecto político - que podia muitíssimo facilmente ficar restrito ao personagem de Irandhir Santos, o professor de História - fez presença novamente. Fica o ótimo trailer, de incentivo.

O filme muito provavelmente seja 5 pipocas, mas no dia eu não tava lá muito a fim de ver um filme tão agitado. Não posso colocá-lo ao lado de Watchmen ou Milk, porque não representou tanto assim pra mim, por mais demais que é. Do mesmo jeito, é obrigatório a todo brasileiro.

NOTA:

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ben-Hur (1959)

Vencedor de 11 Oscars (Só Titanic e Senhor dos Anéis 3 também conseguiram se igualar), diz-se ser o mais dispendioso filme de todos os tempos. Mas o que realmente importa
é que, sem dúvida alguma, é o mais grandioso.

Além das três horas e quarenta que dividi em três partes, dos dois DVDs, 100.000 figurinos, 3.000 figurantes e 300 sets de filmagem, ele trata de temas grandiosos. A amizade, a traição, o amor, a lealdade, a pátria, o poder, a religião, a verdade, a liberdade...

Dirigido por este tal de William Wyler, de quem eu nunca ouvi falar, o filme está num discreto (e até injusto) 146° lugar no IMDb. A história vem de um livro - clássico nos Estados Unidos - que já foi pro teatro (Com uma corrida de bigas, sim, em ciam do palco) e pro cinema em 1907 e 1926. Ou seja, Ben-Hur não é só um filmaço, é uma história que espero que seja refilmada, para que a geração século XXI conheça.


O percurso de Judah Ben-Hur(Charlton Heston), um rico comerciante judeu, é épico. Sua jornada pelo Mundo Ocidental do início do século I é homérica, de batalhas navais a corridas de biga,

Percebi também que em muitos quesitos o filme se assemelha à uma ópera: Os temas simples, os figurinos e cenários estonteantes, a música toda orquestrada e importante, as longas durações das cenas e a diferença bem marcada entre os diálogos solitários e as "cenas sociais", repletas de guerreiros ou plebeus ou escravos ou nobres.

A calma dos filmes de antigamente, a credibilidade vinda da falta de efeitos especiais e a ambição de uma super-produção fazem destes lendários personagem e trajeto um clássico obrigatório.

NOTA:

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Direito de Amar (2009)

Amor. Amor homossexual. A Single Man é isso e muito mais. Ok, muito não, já que nada é muito mais do que isso, o amor. É um drama romântico. Bonito, acima de tudo.

Colin Firth (concorreu ao Oscar de Melhor Ator por esse papel em 2010) é o Professor George Falconer, que perdeu seu amante Jim(Matthew Goode) há algum tempo e, junto, a perspectiva de sua vida. O filme se passa em u
m único dia (Sem contar as memórias, claro) desse romântico agora sem horizontes. Julianne Moore
é Charley, sua melhor amiga excêntrica e cativante. Nicholas Hoult é Kenny, o aluno interessado não só
no professor Falconer como no George fora da sala
de aula.

Tecnicamente, o filme é excepcional. A trilha sonora é completa, lembrando Fonte da Vida de vez em quando. A fotografia é metade do filme, com excelentes cenas em preto-e-branco, em câmera lenta e com enquadramentos nada usuais.


A estréia de Tom Ford, estilista da Gucci, na direção, é impecável. Ao mesmo tempo que consegue não cair em erros de principiante, inova no estilo. Uma técnica que ele usa e abusa é a de aumentar a saturação da imagem nos momentos em que Falconer se sentia vivo, nas cenas que o excitavam de alguma maneira. No começo achei um pouco exagerado, depois percebi que acabou dando um toque muito peculiar e, afinal, foi super bem utilizado (Com os lindos olhos azuis do lindo Kenny Potter, com o vestido da pura criança, com o batom vermelho da moça loura da secretaria...)

No fim, é um filme contido, por assim dizer. Tem seus altos e baixos, mas, talvez por depender da empatia do espectador com os personagens, não possa dar 5 pipocas. Sempre lembro de A Mulher do Viajante do Tempo, que detestei por não ter curtido o personagem principal. A mesma coisa vai acontecer se o espectador resistir a um beijo entre dois homens, se não perceber a infinita e sutil beleza das cenas mais intimistas ou se estiver meio com sono, já que, talvez, o filme seja mesmo meio lento.

NOTA:

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Antes Que o Mundo Acabe (2010)

Filmaço! Numa noite chuvosa de domingo, me aventurei com minha amiga Lucy na sala do Santander Cultural para ver a sessão comentada pela diretora Ana Luiza Azevedo. E valeumuito a pena.

É um filme apaixonante, já que toca em pontos tão cotidianos e simples de maneira que é impossível não se deixar cativar, seja pelos personagens, seja pelo ar da pequena cidade do interior do RS chamada Pedra Grande. Eu, pelo menos, me vi em quase todos, em quase tudo, um pouco: no fotógrafo apaixonado, na irmã ingênua, no pai parceiro, no melhor amigo encrencado, na namorada disputada... Antes Que o Mundo Acabe junto a simplicidade da vida no interior e a complexidade de um adolescente de 16 anos, o Daniel.

Ele é uma adaptação de um livro de Marcelo Carneiro da Cunha. A trama toda se baseia -sutilmente- nos contrastes, no limite, na beirada do 'antes que o mundo acabe'. É um filme sobre diferenças, mas sem a mensagem pedagógica já tão senso-comum de "Respeite as diferenças". Não, as diferenças existem no plano casa/cidade/planeta, família/mundo lá fora. É se encontrando aos poucos com o pai biológico que vive do outro lado do mundo que o garoto da foto ao lado se encontra - afinal, os dois têm até o mesmo nome.

Fica o trailer pra quem precisa de mais pra se convencer a ver esta produção gauchíssima, sem dúvida alguma o meu filme brasileiro favorito: http://www.youtube.com/watch?v=wIAeG37DYw4


NOTA:

PARA QUEM VIU
Pelo que vi, Ana Luiza fez milagre: no livro não existe a personagem da irmã mais nova, que dá a versão cômica, distânciada e ingênua da história; 90 % do livro são cartas; A trama não se passa no interior - logo, não há visita a Porto Alegre. Difícil imaginar, não? O livro, na minha opinião, deve ser uma droga, baseada demais na relação do filho com o pai.

Outra questão que surgiu na sessão foi se Daniel estava de alguma maneira encarando a ida ao México como fuga da realidade que se mostrou não-tão-agradável, ou se ele queria mesmo era se encontrar com o pai (Cena que, aliás, graças a Deus não foi mostrada). O que a diretora disse e eu concordo plenamente é que aquela viagem pro México mostra exatamente que ele, enfim, aceitou a mudança (tanto que até a metade do filme ele reluta contra o pai biológico, mas depois que escreve o e-mail, aceita que não pode ser mais o pacato rapaz do interior.) E, como um certo rito de passagem, deixa de lado seu mundinho de Pedra Grande para conquistar o mundo, antes que... Enfim, tu sabe. =D

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Leningrado (2007)

PODRE. Demorou pra sair a crítica porque eu destesto postar filmes que não curti, mas se estes posts não existissem, não teria lá muito sentido existir o Pipocas em Ação...

A edição, mais uma vez, me incomodou com os cortes abruptos, realmente cortando e rasgando um esboço de uma ótima cena. Detesto este jeito de fazer filmes com milhares de tomadas apressadas, do mesmo jeito que me incomodei bastante nos últimos filmes do Harry Potter, por exemplo. O filme parece que não grava tanto.


O filme é tão ruim que não encontrei imagem nenhuma na internet. Fica o poster ;)

Bom, além de muitas e bizarras cenas em slow-motion por nenhum motivo, o filme peca na quantidade absurda de clichês (A espiã traidora, os duros sacrifícios que devem ser feitos em tempos difíceis, ...). Na questão "o que te prende no filme", ele é uma nulidade. A suposta personagem principal é uma loira oxigenada que fica o filme todo com aquele cabelo "oi, recém fiz uma chapinha" e é toda estúpida. Até pensei que podia ser uma sátira com o americano-padrão, nutrindo ilusões de que as coisas vão sempre acabar bem e que e justiça triunfará. Nina Tsvetnova é uma russa que dá moradia e sustento à Kate Davis, a tal jornalista americana que acabou presa no sítio a Leningrado por causa de um acidente envolvendo sua equipe. E o filme te enche com personagens secundários tão rasos que quase desempenham a função de arquétipos sociais.

Outro péssimo ponto é o ritmo, já que o filme todo se constrói como se o espectador não soubesse o final. Mas você, leitor, bem sabe que os alemães perderam essa batalha crucial apesar de terem exterminado um zilhão de russos com o sítio à cidade.

Algumas inverossimilianças, como uns caras jogando futebol enquanto metade da cidade morre de fome, ou as alucinações de Kate, que de repente desaparecem só tiram o pingo de credibilidade que o filme podia ter.

Se você espera um bom filme de guerra, não vai ver bons efeitos especiais nem tomadas muito originais além da incial. Se você espera uma versão lírica e poética da provável batalha mais importante da IIª Guerra Mundial, também este não é seu filme. O que ele mostra é a dura realidade do cerco de mais de 800 dias à atual cidade de São Petersburgo, todo o sofrimento pelo qual passou a população sitiada, sem escapatória senão a morte pela rígida nevasca e pelo racionamento de comida para salvar os mais saudáveis. Sim, a realidade ele mostra, ou tenta mostrar.

Como, então, fazer deste um filme melhor? A solução é clara, duas cenas do filme mostram bem o rumo que ele poderia seguir e então brilhar: Uma é o pseudo-aniversário da americana, que demonstra bem a intimidade das duas mulheres, solitárias mas ainda tão humanas. Claro que uma cena tão bela acabou sendo destruída com um fim nada-a-ver... A outra cena (Que na verdade são duas ou três) é quando ela escreve na máquina de escrever um esboço de reportagem relatando as terrível realidade que estava vivenciando. Poxa, aquilo podia SER o filme, aquele podia ser o fio narrativo facilmente e curar o sério problema da falta de rumo e estabilidade.

Como todo filme histórico, traz a responsabilidade de saturar o tema pelos próximos 10 anos. Ou seja, pelos próximos anos não se vai mais nem pensar em fazer filmes sobre Leningrado porque este já "gastou" a temática. Uma pena que TÃO mal. E eu sei que essa crítica tá cheia de spoilers, mas eu realmente não me importo quando não recomendo o filme. Vou dar 2 pipocas porque 1 pipoca é só quando eu não aguentei ver o filme até o final. (É uma categoria anti-utópica por definição).

NOTA:

domingo, 29 de agosto de 2010

A Lista de Schindler (1993)

Este fantástico filme de mais de 3 horas de duração ocupa um confortável e até que justo 7° lugar nos melhores cotados do IMDB.

Em preto-e-branco de propósito, Steven Spielberg opta por usar as cores apenas em momentos-chave, sem tornar disso marca do filme como em Sin City. O que faltou - e que Alfred Hitchcok dizia que devia ter em todo filme - é o humor. "Ora bolas, como tu quer pôr humor num filme com uma temática dessas!?" Eu não queria um tipo de humor como o de Bastardos Inglórios, é claro que não, mas uma descontraída tornaria o longo filme preto-e-branco mais tragável.

Outra coisa que pesa bastante o filme, mas dessa vez positivamente, é a quantidade absurda de sensibilidade com que esse tema é tratado: transborda arte nessa obra que acredita no espectador. A trilha sonora em violino completa a fotografia fenomenal.


Perguntei-me várias vezes onde começa e onde termina a ficção (Adoro quando o filme me faz perguntar isso) naquela história baseada em fatos reais. Numa ou outra cena chocante de execução, até para não querer acreditar, pensamos "É só um filme", mas fica aquela perturbação do talvez.

Spielberg frisa bem a nomeação dos judeus, um por um, por nome e sobrenome. Fiz uma relação direta com Estamira, onde um homem que mora num aterro no Rio de Janeiro tem alguns cachorros, acho que uns 5, e faz questão de nomeá-los, todos. Tamanha é a força deste ato aparentemente tão casual, já que singulariza e diferencia.

Alguma relação com Fredrick Zoller, de Bastardos Inglórios?

Te faz sentir mal em muitas cenas - e é aí que o filme peca um pouco, quando faz coro à ideia de que o nazismo é o mal ABSOLUTO. De que os caras eram maus mesmo, matavam e batiam deliberadamente, por que gostavam dessas coisas. Claro que tinha pessoas assim, claro que foi um dos piores legados da humanidade, mas a ideia que o filme passa é que Amon Goeth (Ralph Fiennes, de O Leitor) é o 'vilão perverso quase que caricaturiza o nazismo'. É contra filmes com essa visão do nazismo - que, eu sei, é condenável... - que O Leitor, por exemplo, luta contra, ao mostrar o lado mais humano dos oficiais. Mas veja bem: este aspecto não chega a atrapalhar o filme em si, já que Oskar Schindler (Liam Neeson), protagonista, é exatamente esse oficial mais humano.

De qualquer modo, o filme é daqueles... bonitos. Apesar de tudo, há pessoas de bom coração, o ser humano não é de todo mal, a guerra terminou. Um final - e desfecho - à altura, é tudo o que posso dizer.

NOTA:

OBS: A nota para os clássicos tem como referência eles mesmos: não dá pra comparar um clássico de 5 pipocas com um atual: nosso gosto é cinema contemporâneo, não adianta. Respeitamos, temos curiosidade e gostamos de filmes de mais de 15 anos, mas o nosso negócio é outro.

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