Vi esse filme há algumas semanas, mas esperei pra fazer a crítica para poder refletir mais sobre tudo o que ele significa. Dessa vez os tradutores de título se puxaram: Up in the Air para Amor Sem Escalas não dá. Ninguém quer ver um filme com esse nome. Baita erro de marketing. Eu me nego chamar ele assim.
Up in the Air é um dos 10 filmes (sim, dessa vez são 10) que concorrem ao Oscar de Melhor Filme. Conta a história de vida de Ryan Bingham, um consultor de demissões - no caso George Clooney - que passa 325 dias por ano viajando pelos EUA para cumprir seu trabalho. Fala também sobre o trauma da demissão, algo inimaginável para muitos americanos antes da crise financeira de 2008. Trata também sobre a solidão dos dias modernos, sobre a falta de sensibilidade e sobre relacionamentos humanos. É difícil digerir tanta coisa, mas é simplesmente fantástico. Faz pensar. E muito.
Bingham é um solteirão de carteirinha que sempre trabalha sozinho e não acredita muito em relacionamentos. A partir disso, o filme passa a explorar diversas frentes da vida desse cara. Família, relacionamentos, novos colegas de trabalho. E de um jeito cool e muito agradável de se assistir. É interessante ver como Bingham apresenta a sua filosofia da "Mochila Vazia", onde compromisso significa fardo. Legal entender como essa filosofia vai sendo desconstruída durante o filme quando tudo começa a mudar na vida dele.
O diretor Jason Reitman faz um trabalho excepcional e adiciona ainda uma trilha sonora sem retoques. Para mim, ele é um dos novos grandes nomes de Hollywood. Me identifico muito com suas mensagens, personagens, com seu jeito de contar histórias. Peguem Juno e Obrigado por Fumar como duas grandes obras que tenho na cabeceira.
O elenco é fantástico. Clooney está irretocável, tanto que está no páreo pro Oscar. Ele conseguiu criar um grande personagem e ficou perfeito para o papel. Vera Farmiga (linda) e Anna Kendrick fazem um ótimo papel de suporte, de mulheres que cruzam a vida de Bingham e fazem uma grande diferença. É difícil dizer qual está melhor. Tanto que as 2 também concorrem ao Oscar - de melhor Atriz Coadjuvante.
Ainda por cima, o filme tira sarro com vários aspectos de voar e da vida na estrada. Bem divertido. Uma frase que aparece e resume essa ideia é a seguinte:
"All the things you probably hate about travelling - the recycled air, the artificial lighting, the digital juice dispensers, the cheap sushi - are warm reminders that I'm home."
Lendo isso dá pra ter uma noção da força dos diálogos desse filme. É arrebatador. Uma das cenas que chamam a atenção são as das demissões. Elas foram feitas não com atores, mas com americanos reais que foram demitidos no último ano. Tudo extremamente autêntico.
O filme é lindo. O melhor que vi em 2010, so far. E um dos primeiros de muitos filmes que vão falar sobre a crise financeira americana.
Recomendação de fã: